quarta-feira, 18 de julho de 2007

Nostalgia


Nossa como o passado é belo, tem sua magia, engraçado como vamos a um lugar onde há muito não se ia, lembramos somente das coisas legais, as que doem, vão para a memória seletiva e por ela são esquecidas, a não ser que algo do presente lhe pregue uma peça e o faça recordar...
Após muitos anos tive uma experiência, posso até dizer que única...

Na infância todos os meus domingos eram sagrados, de família evangélica, seguia a rotina, manhã ia para a escola dominical e a tarde ia para casa da minha avó, que da minha casa para dela eram 1h e meia o tempo de distância.
Em casa, esse domingo, aconteceu, sendo que, como não sou mais evangélica, fiquei em casa e fui sozinha pegar o ônibus.

- Mainha: pegue o 73 [aqui os ônibus são por números], você vai saltar naquela estação nova.
- eu: mas o 03 e o 29 que pegávamos, também passa, né?
- Mainha: passa... mas fica distante.

Na hora de pegar o ônibus, vi o 73, pedi parada, mas na hora não subi, esperei o 03...
Foi alucinante todo o caminho, vê como tudo estava mudando e como outras continuavam tão iguais, em uma das avenidas principais de Natal, estão querendo transformá-la parecida com a Av. Caxangá, achei tão estranho... na descida... nossa... estupendo...
Passei pela fabrica de picolé... como quis um...
Passei pelo boteco... o mesmo cheiro da cachaça e da lingüiça... com a mesma barraquinha de jogo do bicho, no qual minha avó fazia suas fezinhas...
Passei pela padaria... o velho cheiro do pão...
Entrei na rua de minha avó... nossa como tudo mudou... as duas mangueiras, uma de manga rosa e outra espada, já não existem mais... meu avô cortou, chorei pelas árvores...

Na casa já não tem a mesma alegria, minha avó não mais lá está, meus primos também não, minhas tias... só duas [de 8 tias e 17 primos]...
A comida já não tem o mesmo sabor... aonde estavam: a galinha guisada, o feijão verde, a farofa mais gostosa que já comi em toda minha vida, o sorvete de abacate, as mangas que chupávamos tiradas na hora?
Meu avô estragou tudo... como pode?
Sempre fez e continua fazendo tudo errado.

Misto de alegria e ódio em mim...
Foi ótimo, delicioso, soberbo e ruim, horrível, pavoroso.
Vi a minha vida inteiro, num dia inteiro.
A nostalgia é tão bom, você olha para trás e percebe o quanto foi feliz e fica pensando, pq o que vivi naquele tempo os meus priminhos também não tiveram o direito de vivê-las?
Sorte? Prêmio? Não sei o q chamar, só sei que tive essa tremenda felicidade e agradeço por isso.
Saudade de minha avó, Dona Maria do Carmo de Melo, ela sim é que era mulher de verdade.